29.12.04

filho vem pra ajudar a lembrar coisas que a vida, sabe-se lá porque, fez esquecer.

28.12.04

uma pergunta que não quer calar: se o multishow tá passando sex and the city do começo pro fim, como anuncia, o que a miranda fez com seu bebê?

o parto indigente - relato

bem, meu parto foi natural, sem qualquer anestesia, nem pra episio me deram. na verdade nem a episio fizeram pq não deu tempo, clarice nasceu de uma única contração e saiu rasgando tudo.

comecei a ter contrações as 19:30 da quinta-feira, de 10 em 10 minutos e foi assim a noite toda até o dia seguinte. de manhã elas apertaram pra 5 minutos de intervalo e fui pro hospital. depois de uma transferência compulsória, uma briga com a médica e algumas lágrimas, dei entrada as 13h00 em outro hospital, com 5 dedos de dilatação e tomaram meu relógio, então não sei como estava o tempo das contrações. fiquei das 13h00 até as 19h00 sentindo dor sem dilatar nada, até me colocarem no soro com ocitocina. aí o bicho pegou, as contrações vinham VIOLENTAS, pensei que fosse morrer, subir pelas paredes, queria minha mãe, minha acompanhante, um pouco de carinho. óbvio que não tinha nada disso, ao invés umas parteiras muito sem educação que gritavam pra gente que na hora de foder não tinha doído, então que ficássemos quietas. haaa, e tinha bem umas 30 indigentes igual eu parindo no local, era virada da lua, estava um inferno. bem, não sei quanto tempo depois me deixaram usar a banheira de hidromassagem, proibida para o horário noturno, deus sabe porque. entrei lá e foi ótimo, devo ter ficado umas 2 horas, consegui relaxar e entrei no expulsivo. como ninguém foi olhar minha dilatação por mais que eu chamasse, fiquei com medo de parir na banheira e fui pro quarto. fiquei mais algum tempo esperando alguém até que me desesperei e saí atrás da enfermeira, estava sentindo as contrações do expulsivo e ninguém olhava minha dilatação. fui capenga, de tripé com soro em punho até o outro quarto e pedi pra alguém me assistir, mas nem ligaram. nesse momento já estava apavorada, minha acompanhante não pôde entrar, só ouvia grito e má vontade das enfermeiras que deviam estar fazendo outra coisa das suas vidas. isso tudo foi me dando um pânico absurdo, sentia que não ia conseguir parir, que faria o trabalho sozinha, queria segurar na mão de alguém, foi horrível, o pior dia da minha vida. algum tempo depois veio uma enfermeira, fez o toque e eu já estava com 8 dedos, então ela estourou minha bolsa. a dor do parto é inacreditável, indescritível, inviável. cada pessoa tem uma tolerância à ela e a minha, dentro desse contexto péssimo, foi bem baixa. se alguém tivesse me proposto sair de lá correndo e procurar uma cesárea eu teria ido de bom gosto. as contrações apertaram mais um pouco e finalmente veio alguém me ver e mandou correr pra sala de parto porque já era a hora. saí do quarto com dilatação total e fui pra lá, andando bem rápido porque a enfermeira agora tinha pressa e a cadeira de rodas provavelmente também não podia ser usada de noite.

lá mandaram entrar minha acompanhante, que já esperava do lado de fora há 10 horas e finalmente alguém segurou minha mão. a parteira me dizia pra fazer força como se eu dominasse meu corpo, que a essa hora já fazia tudo sozinho, a mim só restava gritar. tive algumas contrações e a maior delas trouxe a clarice, de uma só vez, cabeça, ombros e lacerações. a menina foi expulsa de mim com tanta violência que quase caiu no chão, nasceu assustada e minha acompanhante desmaiou nessa hora (23h30). a parteira, enquanto isso, gritava e se descontrolava com a cena, reclamando do desmaio, me acusando de ter me lacerado de propósito porque fiz força demais, que não era pra ter sido assim, agora ela tinha que me costurar, que não ia mais deixar ninguém assistir aos partos. não me deram a clarice pra ver e levaram-na pro berçário, enquanto eu era costurada. quando saí de lá não me deixaram vê-la e me mandaram pra outro andar. 5 horas depois fui atrás do meu bebê e só assim me deram a menina.

ela passou quase dois dias dormindo direto, sem querer nem mamar e finalmente saímos do inferno. não me deram nem receitaram nenhum anti-inflamatório pro corte, não me deram soro com hormônio pro meu útero voltar ao normal, não me ensinaram a dar banho, amamentar, trocar, não me deram vacina, não fizeram o exame do pezinho. quando cheguei no quarto, no pós parto, me levaram pro banheiro, furada do soro e ainda com o frasco vazio pendurado no tripé que eu mesma arrastava e tomei um banho. insisti por algo pra comer e veio um pão francês sem nada dentro. no banheiro não tinha papel higiênico e a água "potável" nos quartos era de torneira.

saí de lá tão passada que demorei muitos dias pra elaborar o ocorrido. a recuperação foi boa, cheguei em casa e dei conta da clarice sozinha. ainda tenho um ponto me incomodando, acho que por ter sido mal costurado, mas os outros já caíram. hoje o parto assumiu outra importância na minha vida, porque se for pensar muito no assunto fico ainda mais magoada do que já estou com o processo. é muito triste viver num lugar onde o serviço público humilha e maltrata o usuário, simplesmente porque ele não tem o dinheiro que lhe compraria alguma dignidade.

27.12.04

"bebês vem zipados." rossana fischer



Coisa mais bonita é você
assim, justinho você
Eu juro, eu não sei por que você
Você é mais bonita que a flor, quem dera
a primavera da flor
Tivesse todo esse aroma de beleza, que é o amor
Perfumando a natureza,
numa forma de mulher
Por que tão linda assim não existe, a flor,
nem mesmo a cor não existe,
E o amor, nem mesmo o amor existe


Carlinhos Lyra - Vinícius de Moraes

25.12.04

e o banho foi uma história. fui convencida de que essa banheira era a melhor, mais confortável, relaxante, blablabla. fiz pesquisa de campo e descobri que um balde de 8.5l dava conta perfeitamente. camelei até 2 dias antes de parir atrás de um adequado, sem ranhuras, do tamanho, cor e preço que eu aprovasse, mas finalmente consegui (e ainda descobri que tá na moda dar banho em bebê no balde, anamariabraga falou e tals). o dia do banho foi um evento, fiquei assustada, era o segundo dia em casa e estava sozinha. ela, na hora que se viu pelada em minhas mãos vacilantes e tentando enfiá-la num balde verde-limão, abriu o berreiro e não dobrava as pernas nem a pau, parecia uma boneca de palito. danou-se, tava com a menina meio molhada, fedida, gritando e sem uma banheira. não tive dúvidas, tirei minha roupa e fomos pro chuveiro. no início foi estranho, mas conseguimos, meio no susto, tirar as cracas do dia e ela ficou cheirosinha e macia. agora já ganhamos uma banheira, mas ainda tomamos banho no chuveiro todo dia. é eficiente, rápido e bem mais carinhoso.

bebês são fedidos. o cara transpira, gorfa, enseba o cabelo, caga e mija em si mesmo, chega um momento que nem ele se aguenta.

23.12.04

adoro ficar com ela no colo, nos esquentamos, me divirto com as caras e bocas, dou o peito, é uma relação deliciosa. gosto tanto que deixei-a mal acostumada, sem querer outra coisa. e descobriu rápido que minha tolerância ao "quanto mais alto, mais alto" é muito pequena. até aí eu também me divirto com ela e tals, mas preciso de algum tempo pra coisinhas relevantes como comer, escovar os dentes, fazer cocô. e hoje tava fedida, fui tomar banho e deixei-a chorando, chorando, gritando, reclamando, esperneando, UÉÉÉÉÉ. então uma hora ela parou, parou, PAROOOU, acho que cansada e rouca de tanto sofrer e penar sem lágrimas. e aos poucos vou percebendo que mente superior domina mente inferior. bem, por enquanto tou tomando uma lavada, mas um dia eu chego lá.

de tanto mamar ela já tem carninha na bunda e os dedos longos da mão grande estão fofos e mastigáveis.

(e meus peitos virando um courinho)

pitica, piolha, piolho, neguinha, boneca, menininha, preta, clarica, fiote, fedô, pequena, bonita, piriquita, polvinho.

20/12/2004

fico ouvindo os bufinhos dela até que venha o "uéé" me chamando. ela me olha com amor e sorri quando sorrio. ela é tudo de mais precioso que já tive na vida. não existo mais sem ela.

19/12/2004

o instinto de preservação da espécie criou o amor incondicional de mãe. se não fosse assim as pessoas desistiriam de tanto trampo, responsa e custo. é meu instinto de preservação da espécie e o dela de sobrevivência.

ela tá ficando mimadinha. e eu não resisto e me deixo fazer de gato e sapato. é uma bonequinha que me olha com amor e tá aprendendo a sorrir quando sorrio pra ela. uma pessoinha que vou conhecendo aos poucos, sintonizando. nessa idade ela precisa de segurança e estou aqui pra fazer com que tudo saia bem na sua vidinha.

03/12/2004

nasceu clarice. bom dia, vida.

(parto natural indigente, no amparo maternal, as 23h30)

27/10/2004

fechei o enxoval com tudo o que a clarice vai precisar. ganhei muitas fraldas, o berço, carinho. sou uma boa pessoa, tenho boas pessoas comigo e minha filha vai viver uma vida decente e com muito amor. quanto mais se aproxima a data da sua chegada, mais próxima me sinto do sentimento mais nobre de toda uma vida. do sentimento que me faz mudar pra melhor.

obrigada deus. obrigada a todos.